segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Estrangeiro de Albert Camus



Logo no primeiro parágrafo do livro "O Estrangeiro" o leitor se surpreende com a forma suscinta e direta pela qual Albert Camus conduz sua narrativa.Em princípio é anunciada a morte da mãe do protagonista Meursault. Podemos imaginar então a desolação, tristeza e angustia de Meursault, mas isto não acontece.

Meursault se mostra frio e indiferente à morte de sua mãe, não fica triste, abatido, e não provaca em sua consciência nenhum tipo de sentimento.O leitor de primeira viagem pode acreditar que na verdade, o impacto e o choque de tal notícia, tenha deixado Mersault apático, mas em seguida, percebemos que o que ocorre de fato é uma frieza fora dos padrões, ou melhor , uma afetividade diferenciada.

Podemos conhecer melhor Meursault, a partir de seu relacionamento com sua namorada Marie. Quando ela o pede em casamento, e questiona, se ele a ama, Meursault com uma sinceridade assustadora, diz que de fato, não a ama, no entanto se ela quiser se casar mesmo assim, tudo bem, ele se casa.Mersault não é capaz de estabelecer relações afetivas, e não se sente culpado por isso, também não se sente culpado por não chorar pela morte da mãe e de não demonstrar sentimentos.

Tem dois vizinhos de prédio. Um deles é Salamano, velho ranzinza cujo maior sentido na vida é castigar seu cão. O outro é Raymond, agiota e cafajeste, de personalidade duvidosa que, no fim, é o grande responsável pelas desgraças de Meursault.

Em um dia quente Raymond, Meursault e Marie vão à praia. E é nesse cenário que o protagonista depara-se com o árabe inimigo de Raymond. O árabe puxa uma navalha e Mersault puxa o gatilho, disparando cinco vezes. Logo em seguida é acusado de assassinato e vai preso. Durante o processo muitos pormenores de sua vida vão adquirindo relevância extrema, como o fato de ter fumado no enterro de sua mãe. É tachado como insensível, um homem sem alma, considerado um forasteiro quanto aos ditames da sociedade. Seu advogado pouco pode fazer e Meursault recebe sentença de morte.

O protagonista da obra, Meursault, vive em permanente indiferença a todos os valores morais. É o homem que não aceita as regras do jogo. Mas também está disposto a ir até o fim defendendo a única verdade na qual acredita. Meursault nasceu para desmascarar o cinismo e o vazio por trás da sociedade como um todo e do indivíduo como elemento principal. O homem é um nada, abandona aqueles que ama e também é abandonado. O homem é impotente perante as desgraças que presencia, e por isso mesmo finge não as ver.O Estrangeiro está ali justamente para dissecar aquilo que está errado e nos abrir os olhos para a estupidez de nossa falsas regras morais.
Se Deus não existe, tudo é permitido. Frase antológica de Ivan Karamazovi, personagem da obra " Os irmãos Karamazovi" de Dostoievski.

Quanto mais o conhecemos menos temos certeza se Mersault é o herói ou anti-heroi dessa história, cujo desenrolar nos joga de um lado para o outro, tal como ventríloquos de Camus, sem saber direito mais o que é certo e o que não é. Pois nossas crenças mais sagradas serão de repente questionadas, à medida que avançamos sobre o psicológico de Mersault. Não estaremos prontos para isso. Cada frase dele nos soará como absurda, desprovida de qualquer contato com a razão ou com o sentimento. Porém, quanto mais se indaga sobre sua sanidade, mais se fascina com a idéia por ele pregada. Tudo é permitido, pois todos nós morreremos e os valores todos se desmoronarão. Para Mersault, não é preciso justificar nada, por isso ele não explica, apenas descreve. Seu silêncio reforça o mistério que seu ser emana. Se ele não tem o que dizer, simplesmente não se obriga a falar. Por isso é desesperadamente verdadeiro, sem jamais pisar no território das mentiras.

Meursault é um jovem escriturário, um homem comum como qualquer outro. Trabalha, paga sua contas, se relaciona com mulheres, entre outras atividades comuns. Normal por fora. Por dentro, é um cidadão sem ambições, conformado com sua vida e sem muita empatia social. Vazio por dentro, segue sua vida apenas com contentamentos imediatos como nadar ou dormir com sua namorada, Marie. Para ele, tanto faz. Tanto faz ter uma posição melhor no escritório. Tanto faz casar com uma mulher que nem ama só para fazê-la ficar feliz. Tanto faz se sua a mãe morre. Mais dia, menos dia, isso iria acontecer mesmo. Ele era como o mundo, indiferente. Centenas de pessoas podem morrer hoje e talvez até virem notícia de jornal e lamentemos a morte deles, porém tudo continuará como era antes. O mundo permanecerá girando e nós prosseguiremos fazendo o que fazíamos antes. Dormimos todas as noites com a mais profunda tranquilidade sobre a ruína de centenas de milhares de outras pessoas. Meursault era exatamente assim. Consequentemente, seu relato, com toda a sinceridade que só um homem que não tem mais nada a perder, carece de certo envolvimento emocional.

Interessante notar que Meursault é condenado, não pelo fato de ter matado um outro homem, mas por ter mostrado frieza, quando sua mãe faleceu.

"O Estrangeiro” faz parte da trilogia do absurdo de Camus, composta, além dele, de um ensaio, “O mito de Sísifo” e uma peça de teatro, “Calígula”. O mundo de Camus é um mundo do absurdo, num primeiro momento, e da revolta num segundo. Da fraternidade e da bondade. Da guerra e da miséria. Do calor e do Sol. Em “O Estrangeiro”, o Sol, por mais ilógico que pareça, mata por causa do sol. Assim como Meursault e muitos escritores modernos, Camus também se considerava um estrangeiro (ou um estranho, já que, no original em francês, L’Etranger, tem este duplo sentido) neste mundo, por isso o título do livro, sem um lugar para chamar de pátria.Um exilado, incapaz de compreender costumes e crenças locais. Um estranho no nino.


Livro:O Estrangeiro
autor:Albert Camus
editora:Record/Altaya
pgs:122
língua:Português
ano:não consta
Biblioteca pessoal: Não tenho.

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