terça-feira, 21 de dezembro de 2010

“O retrato de Dorian Gray” a partir das categorias Platônicas e de Plotino.






Na obra “O retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde podemos perceber desde o inicio vários conceitos, aos quais podemos fazer várias analogias com o pensamento de Platão e Plotino. Podemos perceber isso, logo no primeiro diálogo do filme entre o senhor Henry Wotton, um especialista na arte aristocrática, e o seu amigo, o pintor Basil Hallward.
Nesse primeiro contato entre as duas personagens, o senhor Wotton se encontra curioso sobre o mistério que envolve o novo quadro de Basil Hallward, e o elogia dizendo que essa sem dúvida é a sua melhor obra. No entanto esse quadro chama tanto a atenção de Henry Wotton que ele não consegue acreditar no primeiro momento que a pessoa retratada de fato exista. Quando Basil diz que colocou muito de si mesmo no retrato, Henry ironicamente diz que não há semelhança alguma entre o “Adonis” retratado e o pintor, e argumenta que Basil tem uma expressão intelectual, e isso destrói a beleza de qualquer rosto.
Em seguida, Henry Wotton conhece o belo Dorian Gray, e começa a incutir em sua mente o quão belo é o rapaz, e o adverte que a beleza é efêmera, e que até o tempo tem ciúmes de sua beleza. O interessante é que até o momento, o jovem e belo Dorian Gray não tinha essa preocupação com o tempo, em envelhecer e em perder sua beleza.
De acordo com o pensamento Platônico, poderíamos dizer que o jovem Dorian Gray, era bom e belo. No pensamento dualista de Platão, o belo em si habita o mundo das ideias, o mundo perfeito. Portanto no mundo sensível somos apenas participantes em maior e em menor grau do belo em si. Dorian Gray era privilegiado em ambos os aspectos, participava da beleza em alto grau no mundo sensível, pois tinha uma beleza física muito elevada, mas também possuía uma boa alma. Não podemos nos esquecer, que para Platão, o belo e o bom são indissociáveis.
O grande problema é que o mundo sensível é marcado pelas ruinas, ou seja, pela degradação, e o senhor Wotton fez o jovem Dorian Gray se dar conta disso, que sua beleza terá um fim, que não há como fugir desse destino. A partir desse momento Dorian se dá conta disso, e deseja com toda sua força eternizar sua juventude e beleza, e parece não se importar com as consequências que isso possa acarretar. Basil outrora já havia dito de forma profética, que toda a beleza de Dorian Gray não passaria de forma impune.
Para Plotino, não existe o dualismo Platônico. Porém Plotino acreditava que o belo é a aparência do Ser. O belo participaria também das emanações ( nous) alma e matéria. Ou seja, é possível que o belo esteja presente na matéria , o que é o caso de Dorian Gray, porém não há comparação com o belo do Uno, que é o belo em si. O uno é Deus (Ser), que se manifesta em graus de ontologicidade decrescente, até chegar ao grau mais degradante que é a matéria.
A matéria em Plotino, é quase um não-ser, ela é e não é ao mesmo tempo, porque ela existe, mas pode acabar. Portanto, a beleza física de Dorian Gray, seria apenas um reflexo distante do Belo e do Uno. E de acordo com o pensamento de Plotino, a partir disso, eu poderia intuir, ou melhor pressentir o Belo em si que é o Uno. O Belo no sentido material para Plotino é aristotélico e o belo inteligível é platônico. Quando Plotino pensa o belo de ponto de vista espiritual, ele pensa o belo no sentido do Bem, pois o belo é uma das características do Ser. Então podemos dizer que até o diálogo com Henry Wotton, o jovem Dorian Gray, era belo e bom. Possuía beleza física e tinha uma alma boa.
Então o jovem Dorian Gray faz o seu pedido de juventude eterna diante do gato que representa uma divindade egípcia, Dorian deseja permanecer para sempre jovem e belo, e que o quadro envelheça. E diz que daria tudo para que isso se tronasse realidade, inclusive sua alma. O que realmente ocorre, Dorian Gray, permanece belo e jovem, porém o quadro começa a sofrer a corrupção do tempo.
Podemos observar aqui uma inversão, se no pensamento Platônico, a alma é incorruptível, e não sofre a degradação do tempo, apenas a matéria padece desse mal, o contrário acontece a Dorian Gray, sua alma começa a se degradar. Outrora Dorian era belo e bom, sua alma era boa e seu corpo belo, agora seu corpo é belo e sua alma é má. No decorrer do filme podemos notar que Dorian Gray se tornou perverso e criminoso. Para Platão, o belo está necessariamente acompanhado do bem. Ao optar pela eterna beleza física, Dorian Gray desprezou o belo moral.
Para Plotino, a ideia que o belo e o bem são indissociáveis também é válida : “Por isto se torne cada um primeiro semelhante a Deus e belo, se ele deseja ver o bem e o belo. Primeiro ele vai na sua ascensão chegar ao espírito-intelecto e lá irá ver todas as belas ideias, e ele vai dizer, que as ideias são o belo. Pois tudo é belo através delas, através da criação e da essência do espírito-intelecto. O que está acima disto, nós denominamos a natureza do bem, o qual tem o belo como um cobertura diante de si, assim que ele, para resumir, é o belo original”.
Diferencia-se o espírito-intelecto, então iremos denominar o belo do espírito-intelecto o mundo das ideias, o que esta acima disto fonte do bem e princípio do belo. Ou então nós iremos definir o bem e o belo original como idênticos. Lá em todo caso está o belo.
Semelhantemente a Platão, Plotino também vê no amor a busca do belo, pois o feio, é contrario aos deuses e à natureza, pertence a uma ordem contraria. Porque a própria natureza deve sua gênese ao Belo. Mas os que se sentem atraídos, a gerar na beleza do corpo lhes basta a beleza aparente, o belo terrestre. Estes não conseguem elevar-se a beleza primaria não podem amar aquela senão como imagem distorcida desta, os que não podem elevar-se a tal reminiscência, ignoram a causa dessa paixao. Este é o caso do Jovem Dorian Gray.
No entanto, aquele que une a essa paixão o desejo da imortalidade que nossa alma imortal aspira, busca o Belo na atemporalidade (Dorian Gray, fez o contrário, buscou na temporalidade, no mundo sensível), e, agindo segundo a natureza busca a criação no belo, no eterno, pela afinidade que este tem com a Beleza. Pois a eternidade é aparentada a esta. Aquele que não possui por si mesmo a beleza, anseia tornar-se belo gerando em beleza.
Plotino diz que os que amam os corpos mortais transviam-se, deslizam e ficam perdidos pelo caminho, ignoram aonde os conduz o amor, aonde os conduz o desejo sensual das paixões,e esta foi a causa da decadência de Dorian Gray. Estes veneram a beleza terrestre e com esta se satisfazem, os outros, os que têm reminiscência da Beleza primeira, e não descuidam da beleza terrena, considerando esta apenas como reflexo da Beleza essencial, amam o Belo sem culpa, os outros, que buscam o belo na aparência, encontram por vezes o que é feio, pois o incorreto desejo do belo se transforma no mal, tal é o amor considerado como paixão da alma.
No final da obra de Oscar Wild, Dorian Gray se dá conta que ao contrário do que imaginava, a perene beleza física, apenas o prejudicou, em princípio foi de grande importância, mas aos poucos percebeu que ele as pessoas cada vez mais se afastavam dele, e que sua conduta moral cada vez mais ia se deteriorando. Dessa foram, ele decide “assassinar”, a sua própria figura degenerada no quadro, e o seu corpo físico volta a ser o monstro sórdido de acordo com as ações nefastas que havia praticado nos últimos vinte anos.
Se pudéssemos ter uma perspectiva platônica da morte de Dorian Gray, poderíamos apelar para a metempsicose platônica, e imaginar que Dorian Gray teria que voltar outras vezes a habitar um corpo físico, até que sua alma fosse regenerada, purificada, e então um dia a alma de Dorian Gray poderia voltar para o mundo das Ideias, onde poderá participar do belo, de forma perene e não perecível. Na perspectiva de Plotino, Dorian Gray teria que passar por um processo de ascese para um dia alcançar o Uno, e participar com mais intensidade de sua beleza.








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